É um
diagnóstico de exclusão caracterizada pela presença de distúrbio vocal na
ausência de alterações anatômicas, neurológica ou outras causas orgânicas
identificáveis. Corresponde a cerca de 10% dos casos de disfonia.
As disfonias
funcionais acontecem por:
1. Uso
incorreto da voz –
Geralmente, por falta de conhecimento da produção vocal, ausência de noções
básicas sobre a voz e as possibilidades do aparelho fonador. Alterações mais
encontradas:
a) Espiratória – são dois os principais desvios
da função normal: inspiração insuficiente ou início da fala após expiração.
b) Glótica – uso hipertônico da compressão
glótica ou hipotonia glótica.
c) Ressonantal – os
desvios principais são: o não aproveitamento das caixas de ressonância, ficando
a voz pobre em amplificação de harmônicos ou a seleção de uma caixa específica
(laringe ou cavidade nasal), produzindo um foco de energia concentrada,
prejudicando a estética vocal.
2.
Inadaptações vocais – Do
ponto de vista anatomofisiológico a fonação é uma função adaptada (não existe
um órgão ou aparelho específico para a fonação), por isso as inadaptações
vocais são comuns. Podem estar restritas a um sistema ou envolver várias
regiões ou estruturas. Podem ser inadaptações respiratória, fônica, ressonantal
ou da integração de dois desses sistemas.
Consequência
mais comum: fadiga vocal, quando se utiliza a voz intensamente ou
profissionalmente.
A inadaptação
da laringe é a que mais nos interessa pelo impacto na voz.
Exemplos de
inadaptações: assimetria de pregas vocais, desvios na proporção glótica
(fendas), lesões na cobertura das pregas vocais, desequilíbrio entre o tamanho
da laringe e das caixas de ressonâncias.
3.
Alterações psicoemocionais – A
influência da emoção na voz pode gerar o que denominamos disfonias
psicogenéticas, que podem ser classificadas em 5 tipos:
a) Afonia de
conversão – Fala
articulada – auditivamente, não há emissão de som, mas há articulação;
visualmente, há fenda triangular em toda a extensão ou restrita à região
posterior com forte constrição laríngea (que não é aparente no paciente). Não
há vibração da mucosa. Fala sussurrada – auditivamente, há som
gerado pela fricção do ar expiratório ou interrupção de ar ao longo do trato
vocal; visualmente, a glote praticamente desaparece, acoplamento das pregas
vocais, direcionando o fluxo de ar para a região respiratória. Também não há
vibração da mucosa, porém as fontes friccionais estão ativadas.
b) Uso
divergente de registros – do
ponto de vista auditivo é uma manifestação onde a voz dá saltos de um registro
a outro (peito e cabeça; peito e falsete; basal e peito) de modo
descontextualizado. Ao exame, a laringe muda de posição de acordo com o
registro.
c) Falsete
de conversão –
emissão habitual em registro de falsete, em tons agudos, de fraca intensidade,
às vezes com turbulência indicando tonicidade excessiva. Visualmente, laringe
elevada, pregas vocais afiladas, fenda constante, deslocando a vibração da
mucosa para região anterior das pregas vocais.
d)
Sonoridade intermitente –
auditivamente, a impressão é de uma laringe “com mau contato”, numa espécie de
“liga-desliga”. Alternância surdo-sonora em pequenas unidades de fala (sílabas,
palavras) ou trechos durante conversação. Visualmente, fenda posterior
transitória ou momentos de afastamento total das pregas vocais durante a
fonação.
e) Espasmos
de abdução intermitentes –
fonação entrecortada, com períodos de afonia, fala sussurrada e sonoridade
tensa. Qualidade semelhante à distonia focal laríngea. Visualmente, há períodos
de fonação alternados a movimentos glóticos espasmódicos e fendas diversas.
Os casos
psicogênicos geralmente evoluem bem apenas com reabilitação vocal.
Exame ORL
nas disfonias funcionais – Geralmente, não mostra alterações, sendo
frequente o laudo “normal”.
Queixa do
paciente – Mudança na voz, no tom; fadiga com uso contínuo; quebra de som
e tom; flutuação na qualidade vocal. Além de sensações proprioceptivas
(discinesias vocais): bolo na garganta, aperto, dor, ardor, veias saltadas e
inchadas no pescoço, dor muscular, garganta arranhada, dolorida, irritada.
Intervenção
fonoaudiológica –. O trabalho do fonoaudiólogo nas disfonias funcionais é
muito eficaz e de caráter preventivo a uma instalação de disfonias orgânicas
secundárias (nódulo, pólipo, edema).
Referências:
BEHLAU, Mara
(Org.). Voz - O livro do especialista. v.1. Rio de Janeiro: Revinter, 2004.
p.53-84
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