quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Disfonias Funcionais
Unknownquinta-feira, agosto 21, 2014 0 comentários


É um diagnóstico de exclusão caracterizada pela presença de distúrbio vocal na ausência de alterações anatômicas, neurológica ou outras causas orgânicas identificáveis. Corresponde a cerca de 10% dos casos de disfonia.

As disfonias funcionais acontecem por:

1. Uso incorreto da voz – Geralmente, por falta de conhecimento da produção vocal, ausência de noções básicas sobre a voz e as possibilidades do aparelho fonador. Alterações mais encontradas:

a) Espiratória – são dois os principais desvios da função normal: inspiração insuficiente ou início da fala após expiração.

b) Glótica – uso hipertônico da compressão glótica ou hipotonia glótica.

c) Ressonantal – os desvios principais são: o não aproveitamento das caixas de ressonância, ficando a voz pobre em amplificação de harmônicos ou a seleção de uma caixa específica (laringe ou cavidade nasal), produzindo um foco de energia concentrada, prejudicando a estética vocal.

2. Inadaptações vocais – Do ponto de vista anatomofisiológico a fonação é uma função adaptada (não existe um órgão ou aparelho específico para a fonação), por isso as inadaptações vocais são comuns. Podem estar restritas a um sistema ou envolver várias regiões ou estruturas. Podem ser inadaptações respiratória, fônica, ressonantal ou da integração de dois desses sistemas.
Consequência mais comum: fadiga vocal, quando se utiliza a voz intensamente ou profissionalmente.
A inadaptação da laringe é a que mais nos interessa pelo impacto na voz.
Exemplos de inadaptações: assimetria de pregas vocais, desvios na proporção glótica (fendas), lesões na cobertura das pregas vocais, desequilíbrio entre o tamanho da laringe e das caixas de ressonâncias.

3. Alterações psicoemocionais – A influência da emoção na voz pode gerar o que denominamos disfonias psicogenéticas, que podem ser classificadas em 5 tipos:

a) Afonia de conversão – Fala articulada – auditivamente, não há emissão de som, mas há articulação; visualmente, há fenda triangular em toda a extensão ou restrita à região posterior com forte constrição laríngea (que não é aparente no paciente). Não há vibração da mucosa. Fala sussurrada – auditivamente, há som gerado pela fricção do ar expiratório ou interrupção de ar ao longo do trato vocal; visualmente, a glote praticamente desaparece, acoplamento das pregas vocais, direcionando o fluxo de ar para a região respiratória. Também não há vibração da mucosa, porém as fontes friccionais estão ativadas.

b) Uso divergente de registros – do ponto de vista auditivo é uma manifestação onde a voz dá saltos de um registro a outro (peito e cabeça; peito e falsete; basal e peito) de modo descontextualizado. Ao exame, a laringe muda de posição de acordo com o registro.

c) Falsete de conversão – emissão habitual em registro de falsete, em tons agudos, de fraca intensidade, às vezes com turbulência indicando tonicidade excessiva. Visualmente, laringe elevada, pregas vocais afiladas, fenda constante, deslocando a vibração da mucosa para região anterior das pregas vocais.

d) Sonoridade intermitente – auditivamente, a impressão é de uma laringe “com mau contato”, numa espécie de “liga-desliga”. Alternância surdo-sonora em pequenas unidades de fala (sílabas, palavras) ou trechos durante conversação. Visualmente, fenda posterior transitória ou momentos de afastamento total das pregas vocais durante a fonação.

e) Espasmos de abdução intermitentes – fonação entrecortada, com períodos de afonia, fala sussurrada e sonoridade tensa. Qualidade semelhante à distonia focal laríngea. Visualmente, há períodos de fonação alternados a movimentos glóticos espasmódicos e fendas diversas.

Os casos psicogênicos geralmente evoluem bem apenas com reabilitação vocal.

Exame ORL nas disfonias funcionais – Geralmente, não mostra alterações, sendo frequente o laudo “normal”.

Queixa do paciente – Mudança na voz, no tom; fadiga com uso contínuo; quebra de som e tom; flutuação na qualidade vocal. Além de sensações proprioceptivas (discinesias vocais): bolo na garganta, aperto, dor, ardor, veias saltadas e inchadas no pescoço, dor muscular, garganta arranhada, dolorida, irritada.

Intervenção fonoaudiológica –. O trabalho do fonoaudiólogo nas disfonias funcionais é muito eficaz e de caráter preventivo a uma instalação de disfonias orgânicas secundárias (nódulo, pólipo, edema).

Referências:
BEHLAU, Mara (Org.). Voz - O livro do especialista. v.1. Rio de Janeiro: Revinter, 2004. p.53-84

Categoria:
Jaqueline Moretto Fonoaudióloga CRFa 7299 RS-Especialista em Audiologia-Doutoranda em Ciencias Biomédicas

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